terça-feira, 9 de agosto de 2011

Especial ENEM 2011 - Para entender a Crise americana - Parte 2

terça-feira, 9 de agosto de 2011
O texto é longo, mas de leitura simples. Quem não tiver paciência de ler, veja apenas os parágrafos "De quanto é a divida pública americana?" e "Como um país pode dever tanto?", depois passe pro final (lista de quanto cada presidente gastou).

Mas o texto todo vale a leitura.


 


 "A crise dos EUA para leigos"

Depois de semanas de incerteza, reuniões e trocas de acusações, a Casa Branca e o Congresso conseguiram um acordo para aumentar o limite de endividamento do governo americano. Veja aqui algumas informações básicas para entender melhor essa crise.


De quanto é a dívida pública americana?


O total da dívida americana ultrapassou o teto dos US$ 14,3 trilhões. Estamos falando de mais de R$ 23 trilhões. O número impressiona ainda mais se comparado ao Produto Interno Bruto do Brasil em 2010, de R$ 3,675 trilhões, segundo dados do IBGE. Ou seja o governo dos Estados Unidos deve 6,2 vezes mais do que toda a riqueza que o Brasil produziu no ano passado. Mais de 60 vezes o lucro líquido total da Petrobras em 2010, que foi de R$ 35,2 bilhões, ou mais de 70 vezes o lucro da Vale no mesmo ano, que somou R$ 30 bilhões.



Como um país tão rico consegue dever tanto?


Fácil, gastando mais do que arrecada. A principal fonte de renda do país são os impostos, que não cobrem todas as despesas. Tomando como exemplo o ano passado, o governo federal arrecadou US$ 2,381 trilhões, sendo 42% em imposto de renda de pessoas físicas, 40% em contribuições previdenciárias e 9% em imposto de renda de empresas. No mesmo ano, as despesas ficaram em US$ 3,552 trilhões. A maior parte foi com serviços de saúde (23%), defesa e previdência social (20% cada). Ou seja, o buraco, em apenas um ano, foi de US$ 1,171 trilhão. Para 2011, a projeção é de um déficit de US$ 1,645 trilhão, segundo projeção da própria Casa Branca.


Qual o peso das guerras?


Enorme. Desde o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro em 2001, os EUA gastaram cerca de US$ 2,7 trilhões com as guerras do Iraque e do Afeganistão. Segundo a agência de notícias Reuters, as recentes ações da Otan na Líbia, elevaram esse número para quase US$ 4,4 trilhões. Atenção, essa fortuna se refere exclusivamente às guerras, não incluindo o custeio de bases militares, pesquisa, pensões a ex-combatentes, órfãos e viúvas etc.

E o da seguridade social?


Maior ainda. Embora os EUA tenham uma das piores coberturas sociais das nações desenvolvidas, a previdência e os programas de saúde pública comeram juntos 42% dos gastos de 2010, nada menos que US$ 1,438 trilhão de dólares. Para este ano, a projeção de gastos é de US$ 1,498 trilhão, segundo a Casa Branca.


O que é o teto da dívida?

É o limite do quanto o governo pode pegar emprestado para se custear. A analogia mais comum é a do cheque especial. Uma pessoa que gaste mais do que ganha usa o cheque especial para complementar a renda e pagar contas. Todo mês, ela paga juros sobre esse excedente. Se não conseguir ganhar mais dinheiro ou cortar despesas, a dívida cresce mês a mês. Quando o débito chega perto do limite do cheque especial, o devedor procura o banco e pede um crédito maior. O equivalente ao cheque especial para um governo são os títulos da dívida emitidos pelo país. Um credor os compra e espera receber os juros.


Como é o teto da dívida nos EUA?


A constituição dos Estados Unidos dá ao Congresso o poder de autorizar o endividamento do governo federal. Até 1917, os parlamentares autorizavam cada empréstimo isoladamente, mas, para facilitar o financiamento da participação do país na Primeira Guerra Mundial, o sistema foi mudado, criando a ideia de um teto. Até esse limite, o Executivo pode pegar empréstimos livremente. Para ultrapassar essa marca, é necessária autorização do Legislativo. Desde 1960, o teto foi elevado 68 vezes, sempre de forma tranquila, não importando que partido estava na Casa Branca ou tinha maioria no Congresso.


Por que a elevação virou uma crise?


O problema agora é político. A crise não se refere tanto à elevação do teto, mas à forma de lidar com o déficit público, ou seja, como fazer com que as despesas do governo não sejam muito maiores do que o quanto o país arrecada. As opções envolvem cortar gastos e aumentar impostos, e aí ninguém se entende.

 
O que defende o Partido Democrata?


Os democratas, que são minoria na Câmara e maioria no Senado, defendem cortes nos gastos do governo e aumento de impostos, especialmente para os mais ricos.


O que defende o Partido Republicano?


O Partido Republicano, que faz oposição ao presidente Barack Obama e tem maioria na Câmara, defende o corte de despesas, mas não no orçamento da Defesa. Sobra, então, para despesas sociais, como serviço de saúde para os mais pobres (o equivalente ao nosso SUS) e aos idosos. Na questão dos impostos, os republicanos são, em geral, contra aumentos. Quem tem uma posição muito radical aí são os deputados ligados ao chamado movimento Tea Party.


O que é o Tea Party e o que defendem seus parlamentares?


O Tea Party é um movimento ultrarradicaldezembro de 1773, colonos da cidade de Boston invadiram, disfarçados de índios, navios da Companhia das Índias Orientais – que detinha o monopólio do chá – e atiraram a carga ao mar, em protesto contra a taxação imposta pelo Parlamento inglês. Eles não eram contra os impostos em si, mas sim contra o fato de terem sido decretados por um parlamento onde não tinham representantes.


Mesmo assim, os republicanos radicais adotaram esse nome como um símbolo da resistência à interferência do governo na vida do cidadão, especialmente a cobrança de impostos. Seus parlamentares, portanto, são contra qualquer aumento de tributos, especialmente para os ricos. A tese deles é que, com mais dinheiro no bolso, os ricos podem investir mais, gerando mais empregos e riquezas.


O que diz o acordo aprovado?


O governo poderá aumentar imediatamente, em US$ 400 bilhões, o teto da dívida, para evitar um calote. Até fevereiro do ano que vem, poderá fazer nova elevação de US$ 500 bilhões. Na verdade, o problema só é solucionado no curto prazo, pois os dois lados apostam no resultado da eleição para presidente e a maior parte do Congresso no ano que vem. Os democratas esperam retomar a maioria da Câmara, enquanto os republicanos sonham em tirar Obama da Casa Branca.


O Tea Party conseguiu o que queria, e o plano não prevê aumento de impostos. Em lugar disso, há previsão de corte de gastos. Em outubro deste ano começa uma limitação nos gastos que reduzirá o déficit público em US$ 917 bilhões ao longo de dez anos. No primeiro ano, a economia será de apenas US$ 21 bilhões serão economizados no primeiro ano. Até novembro, uma comissão do Congresso vai buscar formas de cortas mais despesas ou conseguir mais receitas, num valor total de até US$ 1,5 trilhão. Pode haver retirada de isenções de impostos e até cortes na Defesa. A Previdência Social e o programa de saúde Medicaid, voltado para famílias de baixa renda, estão fora dos cortes.


Se o teto da dívida não fosse elevado, o que aconteceria?


O governo não teria dinheiro para saldar suas dívidas com credores ou pagar aposentadorias e pensões e contratos de empresas com o setor públicos. Qualquer uma das situações iria agravar a já séria crise econômica no país, com reflexos sobre a economia global.


Quem gasta mais, republicanos ou democratas?


A despeito do discurso de austeridade do Tea Party, os republicanos, nos últimos 30 anos, gastaram mais que os democratas. Veja abaixo a evolução da dívida pública dos EUA no período, dividida por presidente:


Ronald Reagan (1981-1989): O republicano herdou um déficit de US$ 908 bilhões e deixou uma dívida de US$ 2,6 trilhões (variação de 186%), a maior parte com orçamento militar. Essa gastança, porém, foi decisiva para levar ao colapso da União Soviética e ao fim da Guerra Fria.



George Bush (1989-1993): Também republicano, pegou os US$ 2,6 trilhões de Reagan e elevou a US$ 4,2 trilhões, um aumento de 62%.



Bill Clinton (1993-2001): O democrata chegou até a conseguir superávit em alguns anos, mas, ao longo de seus dois mandatos, o déficit cresceu 36%, passando de US$ 4,2 trilhões para US$ 5,7 trilhões.



George W. Bush (2001-2009): Além de torrar dinheiro em duas guerras, o republicano cumpriu a promessa de campanha e cortou os impostos para os mais ricos. Resultado? A dívida saltou de US$ 5,7 trilhões para US$ 10,6 trilhões (mais 86%).



Barack Obama (2009): Em três anos de governo, Obama elevou o déficit de US$ 10,6 trilhões para os US$ 14,3 trilhões atuais, uma alta de 34%."



Essa é mais uma crise do Capitalismo, que como já dizia Karl Marx no século XIX, "produz seus próprios coveiros."


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