André Alves* - A Liga, o melhor programa da TV aberta e comercial atualmente no Brasil, escolheu o dia do Sexo (06/09) para tratar de um tema bastante controverso: a indústria do sexo. O programa, que tem se destacado por abordar assuntos que geralmente são ignorados ou mascarados pela grande mídia, consegue conciliar informação de qualidade e abordagem séria e sem maniqueísmos pseudo-moralistas.
Com este episódio, o programa não foi diferente, acompanhando garotas de programa (mulheres e travestis), as casas noturnas, a vida das coelhinhas, uma webstripper e até mesmo os bastidores da produção de um filme pornô com o “astro” Rogê. Tudo mostrado sem pedantismo, mas às vezes com um toque de humor que é muito bem vindo.
Com este episódio, o programa não foi diferente, acompanhando garotas de programa (mulheres e travestis), as casas noturnas, a vida das coelhinhas, uma webstripper e até mesmo os bastidores da produção de um filme pornô com o “astro” Rogê. Tudo mostrado sem pedantismo, mas às vezes com um toque de humor que é muito bem vindo.
Interessante os números apresentados no episódio: A indústria do sexo movimenta 1 bilhão de reais por ano e emprega cerca de 50 mil pessoas no Brasil. Todos os dias, três filmes pornográficos são lançados no país produzidos por cinco produtoras. O mercado nacional de produtos eróticos cresce 15% ao ano em 100 lojas físicas, 650 virtuais e possui mais de 3 mil vendedores domiciliares. A clientela é essencialmente feminina (70%). Isso sem falar nos cerca de 500 sites especializados, 120 publicações e centenas de blogs. Apesar de todos esses números, e de fazer parte da cultura brasileira, a indústria do sexo ainda é tratado como tabu.
http://www.band.com.br/aliga/ |
Em Portugal, um estudo apontou que 32% dos evangélicos entrevistados acessavam conteúdos pornográficos na internet, 12,51% pornografia na televisão, DVD ou cinema e2,97% pornografia em revistas.
Já no Brasil, um levantamento de 2009 apontou que “sexo” era o quarto termo mais buscado na internet por crianças. Se por um lado, aumentou a facilidade de acesso a conteúdos impróprios para menores de 18 anos, a visão de que a indústria do sexo é responsável por isso é errônea. O melhor caminho para evitar que crianças não vejam o que não devem é o diálogo dos pais com os filhos. E ignorar que a pornografia faz parte do nosso cotidiano não ajuda em nada na educação de ninguém.
E até existe uma grande demagogia não só sobre o sexo, mas sobre a nudez. Um exemplo recente é a novela Mulheres de Areia, que será retransmitida a partir de segunda-feira (12) na Globo no período da tarde. Exibida originalmente em 1993 no horário das 18 horas a novela terá sua abertura alterada para encobrir algumas cenas de nudez parcial, pois a Vênus Platinada julgou não estar mais dentro dos padrões morais vigentes. Há 18 anos podia, agora não pode mais. Só pode no carnaval ou quando alguma descuidada “deixa aparecer” uma parte mais íntima do corpo durante o Big Brother ou em A Fazenda. Ou seja, nu parcial artístico não pode mais, só pode quando é em programa tosco.
Não se trata aqui de defender o sexo como entretenimento, até porque não precisa de defesa. Está na internet, nos programas televisivos, no camelô da esquina, nas bancas de jornais e nas casas noturnas. O que importa é que a discussão seja tratada sem falsos moralismos e que os profissionais do sexo, sejam atores ou garotas e garotos de programa, sejam tratados como pessoas.
Desmoralizar esses profissionais apenas facilita a clandestinidade, o tráfico de pessoas para prostituição, a violência, o preconceito e, infelizmente, no caso Elisa Samudio por exemplo, não foi raro a mídia desmerecer a vítima por ela ter atuado em filmes pornôs, como se isso transformasse a mulher e mãe em algo menor.
Mostrar a realidade, como fez A Liga é um passo inteligente, ainda que pequeno, para contribuir para um debate mais interessante sobre o quanto a sexualidade é importante em nossas vidas. Isso não é sacanagem. Sacanagem é a mídia estimular o sexo nos comerciais, programas e nas novelas e depois fingir que não tem nada com isso!
* André Alves é jornalista em Mato Grosso e especialista em Antropologia
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