O mito e os quadrinhos.
Depois de quase 5 décadas de existência, ainda persiste o enigma de como a gigante dos quadrinhos Marvel viabilizou que um dos grandes mitos nórdicos ou até mesmo marco da cultura escandinava, como o personagem Thor, deixasse para trás o grande panteão de deuses e demais entidades do gênero para habitar, até então, as populares páginas dos quadrinhos ganhando assim o “rótulo” de “personagem clássico” entre tantos outros da bem sucedida editora. A década de 60, em particular, foi uma época muito fértil para a Marvel, e dentre tantas criações cujas origens tem como base desastres químicos ou radioativos, eis que surge nas páginas das HQ’s o mítico e Todo Poderoso Thor, o Deus do Trovão. No mito, Thor, filho de Odin, soberano de Asgard, com a deusa Jord, de Midgard (terra) dono de uma incomparável força bruta, somente igualada pelo poder de sua arma mágica, o martelo Mjolnir. Comandante das tempestades, raios e trovões, casado com a deusa Sif e que, apesar da natureza do caráter de seu irmão adotivo Loki, trapaceiro e brincalhão, gostava de sua companhia e ainda ostentava a fama de destruidor do mal, alcunha que além de sua fama lhe rendeu também uma morte cheia de glória diante de um nêmesis igualmente poderoso (a serpente Jörmungandr, que matou e foi morta por Thor).
Obviamente que nos quadrinhos, adaptações para o público foram realizadas por seus idealizadores Stan Lee, Larry Lieber (irmão de Stan cujo nome verdadeiro é Stanley Lieber), e com a arte conceitualizada por Jack Kirby, como a grande maioria das propriedades Marvel que surgiram naquela época.
O herói da Marvel é igualmente poderoso assim como na mitologia nórdica, mas houve a necessidade de transportar o deus do trovão para a Terra, e assim passar suas aventuras onde mais interessava aos seu criadores, além da editora é claro.
Thor, apesar de sua vocação para o bem, tinha um sério problema com sua arrogância, algo que sobressaltava aos olhos de seu pai Odin.
Como punição e posteriormente lição para Thor, Odin envia seu filho para a Terra para aprender a humildade entre seres inferiores à sua casta. Sendo assim, o Deus do Trovão passou a andar entre os humanos como o doutor manco Donald Blake, sem nenhum vestígio de memória de sua divindade em Asgard.
Thor não somente aprendeu, como também teve compaixão pelos seres humanos depois de ter cumprido seu destino na Terra, fator que o leva a ser um de seus maiores defensores.
Do tom originalmente rústico e bruto da mitolologia, o personagem passa a ter uma altivez e imponência, enquanto mais alguns toques típicos da Marvel foram inseridos para uma aceitação maior do que antes era o mito, para o que era agora um dos seus atrativos populares.
Como Donald Blake, conhece a enfermeira Jane Foster, pela qual se apaixona criando o dilema das impossibilidades de um relacionamento entre um deus e um ser humano.
O herói, graças à sua empatia pela raça humana, não volta definitivamente para Asgard, e sempre fica transitando entre os dois universos, que por sinal, ganha uma releitura na Marvel, onde o reino da deidade, antes estabelecido como uma espécie panteão de deuses (ou céu como alguns definiriam baseados em crenças religiosas de outras culturas), passa a ser uma “dimensão” diferente.
O personagem, a exemplo de muitos outros da Marvel, vai ganhando uma série de mudanças, conforme o passar dos anos. Novas identidades, novas histórias, sua entrada para Os Vingadores (grupo o qual ele fundou), e até mesmo novas origens, como foi o que aconteceu no universo Marvel Ultimate, onde o herói não possui um alter ego humano, assim como uma limitação no que se refere a poderes, e dependência de sua clássica arma, o martelo Mjolnir.
No universo Ultimate Thor, recriado por Mark Millar (Kick Ass), aparece como um enfermeiro psiquiátrico, Thorlief Golmen, que após um colapso nervoso e um longo tempo institucionalizado, percebe que foi enviado à Terra para uma missão, e se proclama como Thor, o deus do trovão, deixando realmente algumas dúvidas sobre sua real divindade nos leitores ao longo do conto de sua origem.
Apesar da releitura do clássico herói asgardiano, tais mudanças tornaram o personagem mais verossímil e consequentemente mais aceitável entre a nova geração de leitores, o que provavelmente inspirou o roteiro do longa da Marvel Studios que comentaremos a seguir.
Thor | Resenha
Para quem esperou com nervos de Uru!
Há muito tempo os fãs do material original da Marvel aguardaram por mais uma adaptação para as telonas, de mais um de seus personagens clássicos, e que também vem no intuito de preparar o terreno para a chegada do grande grupo de heróis Os Vingadores, que chega aos cinemas em 2012.
Enfim, o que podemos considerar, é que entre falhas e acertos, os acertos predominaram durante sua exibição, o que torna mais um dos trabalhos da Marvel Studios, a ser colocado ao lado de seus sucessos anteriores, talvez por vezes não comercialmente, mas por criar um resultado final onde fidelidade e bom senso podem coexistir, como no caso de Hulk e Homem de Ferro.
Como anteriormente citado, muito deste Thor, encarnado por Chris Hemsworth, que obteve um pequeno destaque como o pai de Kirk no novo Star Trek, veio do universo Ultimate dos quadrinhos da Marvel, onde Mark Millar revitalizou os medalhões da editora, e diga-se de passagem, pode ter e em muito colaborado para a composição final desta adaptação de Thor.
Ok, até podemos observar que o herói perde um pouco de sua imponência, talvez pelo fato de que é uma das poucas vezes que se faz algo certo com o personagem fora dos quadrinhos, e porque Hemsworth ainda parece caminhar até o que Thor realmente representa, mas com certeza caminha no rumo certo.
A adaptação opta por partir das origens de Thor, com uma passagem que cita os atritos com os gigantes de Gelo e de como tal problema ressalta os defeitos de caráter de Thor perante o soberano de Asgard, seu pai Odin, interpretado de maneira simplória porém firme pelo veterano Anthony Hopkins.
Em uma demonstração de atitudes arrogantes e por vezes inconsequentes de seu filho, Odin, bane seu principal herdeiro ao trono para o “reino” terrestre, onde Thor, perde seus poderes e vive confinado junto a meros seres mortais. Lá, acidentalmente conhece a cientista (e não enfermeira como nas histórias originais) Jane Foster, vivida pela altamente celebrada Natalie Portman, e seus colegas Erik Selvig (Stellan Skarsgård) e Darcy Lewis (Kat Dennings).
A “retumbante” chegada do herói em seu exílio na Terra não somente chama a atenção do trio citado acima , mas como também da S.H.I.E.L.D, a agência de operações mega especiais já apresentadas nas produções anteriores da Marvel Studios. Isto, mais os intrincados planos de seu irmão (na verdade adotado por Odin) trapaceiro Loki, impede que Thor regresse a Asgard e instaure a justiça. Loki aqui é personificado por Tom Hiddleston, e que diga-se aqui, fez um papel bem diferente se comparado ao original, mas que em momento nenhum foi menos interessante, o que lhe rendeu um tom enigmático.
Em termos de roteiro, a dupla Ashley Miller e Zack Stentz acertou em cheio, o que faz da produção em questão não só ser fiel em grande parte ao conteúdo do Universo Ultimate, mas também não deixar de lado as fortes referências sobre o passado de Thor nos quadrinhos, como por exemplo, seu alter ego das histórias originais, a do médico manco Donald Blake. Apesar de nem de longe estar presente com muito destaque no longa, tem sua devida homenagem e uso com extremo bom senso, sem mencionar as diversas tiradas cômicas e outras referências ao demais universo Marvel.
Partindo para o lado técnico da coisa, Thor teve muito esmero na pós produção, com efeitos visuais estonteantes , que foram muito bem otimizados pela tecnologia 3D em sua exibição, principalmente no que se refere às cenas em Asgard, em que cenários, efeitos visuais e figurinos fazem sentido neste contexto.
O que infelizmente não funciona tão bem quando situado na Terra, dada as abissais diferenças da cultura nórdica para a contemporânea, o que se nota de maneira sensível quando os guerreiros de Asgard vêm para o nosso planeta em auxílio a Thor (Volstagg, Hogun, Fandrall e Lady Sif). Tirando isso, o longa tem boas cenas de ação e efeitos especiais físicos aliados a boas cenas cômicas.
Obviamente a Marvel tem que olhar pelo lado comercial, e principalmente formar o arco de histórias para que todos se conectem na adaptação dos Vingadores, apesar do filme funcionar perfeitamente caso optarem por não saírem de Asgard.
Finalizando, o filme é digno de muitos elogios e principalmente muitos deles tem de ser destinados ao diretor Kenneth Branagh, que de ator Shakesperiano foi se aventurar no popular universo dos super-heróis, como diretor, se saindo muito bem pelo que notamos nesta produção.
Um filme, que garantirá muitos minutos de diversão com o bom uso da tecnologia 3D, e principalmete com um estilo visual que conta com assinatura própria, que há muito não víamos nestas últimas enxurradas de filmes, que contavam com toneladas de CGI empregados a esmo.
FONTE:http://www.nerdrops.com/
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