sexta-feira, 8 de abril de 2011

O SUICIDA DE REALENGO E A SOCIOLOGIA

sexta-feira, 8 de abril de 2011
Por: Darcy de Arruda

Wellington Menezes 
O caso do suicida de Realengo, no Rio de Janeiro, pegou a sociedade brasileira de surpresa, no entanto essa modalidade de suicídio vem a muito acontecendo no mundo, e com certeza era uma questão de tempo acontecer no Brasil.
As mazelas do convívio social são muitas em um mundo que prega o individualismo, o consumismo e sobre tudo a exclusão do diferente, do que não se encaixa nos padrões de comportamento. O caso de Realengo, no entanto, parece envolver questões psicossociais e fatores ainda não esclarecidos, para tanto recorrerei a um dos fundadores da Sociologia, Émile Durkheim (1858/1917).

           Durkheim propõe-se a estudar as causas do suicídio classificando-as, de acordo com as características, em três tipos: Egoísta, Altruísta e Anômico. Para começar a compreendermos o caso de Realengo vamos utilizar cada um desses três tipos.
Especulando sobre o que sabemos a respeito do comportamento social de Wellington Menezes, podemos analisá-lo a partir da concepção Egoísta de suicídio: “o estado de egoísmo consiste em uma falha na integração, uma individualização excessiva com o meio social: o que há de social em nós fica desprovido de qualquer fundamento objetivo. Para o homem que se encontra nessa situação nada mais resta para justificar seus esforços e pouco importa o fim de sua vida, já que ele está pouco integrado com seu meio social”. Essa falha na integração social será esclarecida com o aprofundamento da investigação psicossocial do suicida. Quando saberemos quais foram os processos de exclusão que ele viveu, partindo, é claro, do princípio que essa exclusão tenha realmente acontecido, e ate que ponto esse processo afetou seu comportamento.

            Para continuarmos especulando, por questão meramente sociológica e pedagógica, vamos à segunda concepção de suicídio de Durkheim, o Altruísta: “difere-se do tipo egoísta por acontecer em caso de individualização insuficiente. Esse tipo de suicídio ocorria com mais freqüência nas sociedades as quais o autor chama de primitivas. São sociedades em que os indivíduos encontram-se tão fortemente integrados que são sobrepostos pelo coletivo e por vezes sentem que têm o dever de se matar. Para o indivíduo que se sente coagido a tomar tal atitude, há certo heroísmo que a sociedade espera dele (por exemplo, sociedades em que morrer de velhice é desonroso).” Aqui percebemos a influência das correntes evolucionistas do  século XIX, que nas ciências sociais são classificadas de Evolucionismo Social, onde as mais evoluídas eram as sociedades européias e as menos evoluídas as sociedades aborígenes. Essa concepção na atualidade dificilmente se sustenta já que na sociedade atual o individualismo deixa pouca margem para o coletivismo. Não cabendo então a questão aqui levantada.
            Para por fim a esse processo especulativo, falaremos do que Durkheim classificou como suicídio Anômico. Segundo ele “se nada há que contenha o indivíduo nem em si e nem no exterior, é preciso que a sociedade exerça uma força reguladora diante das necessidades morais. Caso isso não ocorra, os desejos tornam-se ilimitados e a insaciabilidade torna-se um indício de morbidez”. Indícios esses retratados na carta deixada por Wellington, onde a premeditação do crime fica explicita, alem do planejamento meticuloso do fim a ser dados a seus restos mortais.
            Vamos continuar escutando Durkheim “difere-se, portanto, dos dois tipos anteriores por acontecer quando o indivíduo não encontra razão nem em si mesmo nem em algo exterior a ele e a sociedade, por algum motivo, não está em condições de controlá-lo. É chamado de anômico, porque ocorre em um estado excepcional que só se dá quando há uma crise doentia, seja dolorosa ou não, mas demasiado súbita, tornando a sociedade incapaz, provisoriamente, de exercer seu papel de reguladora. É um estado de desregramento, acentuado pelo fato de as paixões serem menos disciplinadas na altura exata em que teriam necessidade de uma disciplina mais forte. A partir do momento em que nada nos detém, deixamos de ser capazes de nos determos a nós próprios”.
            Resta agora às investigações científicas responderem o que acionou os gatilhos psicossociais de Wellington para que ele liberasse suas paixões reprimidas e colocasse a mostra sua patologia. Quais atitudes a sociedade deixou de tomar para “disciplinar” seu comportamento? Quais tratamentos poderiam prever e evitar esse surto? Tratamentos psicológicos ou também sociológicos? Enfim muito ainda há de se especular sobre o caso, e sem dúvidas, as analises com base nos conceitos durkheinianos não se encerram por aqui.
            Esse foi um texto que buscou de forma superficial, com caráter especulativo e pedagógico, retratar como a muito tempo a Sociologia vem estudando as mazelas da “sociedade moderna”, sobre tudo, demonstrar que essas questões estão sem respostas definitivas, e que o indivíduo em sociedade jamais fará nada sem que, conseqüentemente, suas ações afetem a coletividade.  

Referencias bibliográficas:

1-DURKHEIM, Émile. O suicídio. Livro II, cap. V, pág. 294. São Paulo, Martin Claret, 2008.
DURKHEIM, Émile. O suicídio. Introdução, Cap. I, II e III, Livro II, cap. I, II, III, IV e V. São Paulo, Martin Claret, 2008.
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. Livro III, cap. I. Santos, Martins Fontes.
GIDDENS, Anthony. Capitalism and the modern social theory. Cap. 2, Item 6, pág. 82 a 94. New York, 1971.
RODRIGUES, José Albertino: A sociologia de Durkheim. Durkheim- Sociologia. São Paulo, Ática, 1999.
Outras fontes:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v14n1/0199.pdf
http://www.suapesquisa.com/biografias/emile_durkheim.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fato_social
http://michaelis.uol.com.br/
http://www.webartigos.com/articles/24750/1/O-Suicidio-Emile-Durkheim/pagina1.html

3 comentários:

Anônimo

Fico muito feliz que meu aluno tenha aprendido Durkheim a ponto de usá-lo nessa situação e fazer uma analize com esse brilhantismo.

Abraços da sua Professora Alair.

DARCY DE ARRUDA

Prof. muito obrigado.
Suas aulas me inspiraram a nunca parar de ler.
Abraços.

Anônimo

Legal mesmo professor!

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