Texto: Extraido do blog Café com Sociologia
Essa pergunta parece ser interessante para pensarmos um pouco, ainda que de forma introdutória ou superficial e sem muito rigor sociológico...
Essa pergunta parece ser interessante para pensarmos um pouco, ainda que de forma introdutória ou superficial e sem muito rigor sociológico...
É comum notarmos que indivíduos pobres, moradores das periferias (me refiro aqui as periferias pobres) de nossas cidades, mesmo quando usam roupas de marca caras, relógio e óculos de grife continuam com aspectos de moradores da periferia. Por que isso? Não usam eles tais roupas, óculos, relógios, e acessórios de grifes importantes justamente para parecerem ricos ou, pelo menos, de classe média? Para pensar tal situação acredito que o conceito de habitus, de Pierre Bourdieu, nos ajuda a iniciar uma reflexão a respeito.
Para Bourdieu, cada classe social possui seu habitus próprio (devido suas experiências sociais), o que o leva a perceber o mundo social de forma particular, levando-o a agir também de forma particular. Assim cada classe social possuiria, na perspectivas deste autor, modos de agir, pensar e sentir diferentes.
Quando a mídia busca influenciar os indivíduos a um comportamento de consumo aparentemente padrão (como, por exemplo, a forma de vestir o corpo) o resultado se materializa de forma diferenciada sobre cada classe social. Isso ocorre devido tais classes absorverem (devido seus habitus distintos) essas mensagens a partir de “seu mundo próprio”. A mensagem é a mesmo, a compreensão desta que muda de classe para classe (certamente varia de indivíduo para indivíduo, mas de forma menos intensa).
Posto isto, começamos a ter uma indicação do porquê da situação posta inicialmente. Quando o indivíduo de uma dada classe social absorve uma propaganda (que o influencia a comprar uma dada roupa de marca cara), à absorve de sua maneira, a partir da forma com que percebe o mundo social (ou melhor, da maneira de sua classe social). Assim, cada classe social, sob a mesma influência, recebe a influência midiática de forma diferenciada e o resultado será igualmente diversos, próprio da classe social. Assim, o celular comprado pelo menino da periferia pobre será usado da forma que julgar mais adequado [como por exemplo, ligar o som dentro de um ônibus para que todos ouçam].
Por mais que comprem determinados produtos típicos (inicialmente) de classe social mais elevada, continuará com aspecto de pobre. Por mais que a roupa, o carro (como na foto) indique um padrão social de classe médio, outros sinais (de classe baixa) continuam sendo emitidos via habitus.
Por mais que comprem determinados produtos típicos (inicialmente) de classe social mais elevada, continuará com aspecto de pobre. Por mais que a roupa, o carro (como na foto) indique um padrão social de classe médio, outros sinais (de classe baixa) continuam sendo emitidos via habitus.
Fonte da imagem: Site o melhor do humor |
A “piriquete”, por exemplo, parece ser uma absorção de uma propaganda (muitas vezes via telenovelas), que vende um ideal de mulher poderosa, chic, fina, “com classe”, sempre frequentando festas importantes e de “auto nível”, independente... A mulher, desprovida de educação escolar, residente da periferia pobre, sem “gosto refinado” e incapacitada de frequentar festas de “auto nível”, de comprar as mesmas roupas daquela, absorve a propaganda a partir de sua perspectiva de mundo, de acordo com suas possibilidades, e sem se desprender de seus costumes anteriores (como a exibição do corpo, as constantes "ficadas", etc.), tornando o resultado final (desta “imitação”) diferente da típica “mulher poderosa” das telenovelas globais (visto que é, geralmente por esse meio que elas tem acesso ao suposto perfil da mulher poderosa): nasce, assim, a piriquete!
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