O Hobbit
Por: Bruno Vox
Aproveitando essa onda tolkieniana por conta da adaptação de “O Hobbit” para os cinemas, nada melhor que escrever minha primeira resenha aqui no ONE sobre o livro.
Numa toca no chão vivia um hobbit…
Apresentar “O Hobbit ou Lá e de Volta Outra Vez”, livro de J.R.R. Tolkien é quase que heresia, pois um dos maiores romances do século passado que inspirou não somente o próprio Tolkien a desenvolver o “Universo da Terra Média”, mas também uma legião de novos romancistas influenciando o rumo da literatura mundial, despensa apresentações, no entanto tal formalidade é praxe.
“O Hobbit” começou a ser resenhado muito antes de ser publicado(21 de setembro de 1937), no final da década de 1920, o professor Tolkien em um papel branco e sem alguma explicação lógica simplesmente escreveu “Em um buraco no chão vivia um hobbit” quando corrigia provas na Faculdade de Pembroke, Oxford. Uma frase fora de contexto tomou proporções épicas tal como a vida do pequeno hobbit, Bilbo Bolseiro, protagonista da aventura.
O livro que notoriamente abriu a literatura fantástica para o mundo é dividido em dezenove capítulos que conta a aventura de treze anões(Dwalin, Balin, Kili, Fili, Dori, Nori, Ori, Oin, Gloin, Bifur, Bofur, Bombur e Thorin Escudo-de-Carvalho) e do hobbit Bilbo Bolseiro em busca do tesouro roubado dos anões pelo dragão Smaug.
Os hobbits não são criaturas aventureiras, muito pelo contrário, seres pequenos, de pés cabeludos e grandes preferem o conforto do lar. É tão incomum hobbits se aventurarem que os poucos que o fazem são tratados com estranheza pelos demais. Então, como Bilbo foi parar nessa aventura? Para tal tarefa, quase impossível, não poderia ter intermediário melhor, o mago Gandalf, articulador da peripécia.
Gandalf escolhera Bilbo para fazer parte da aventura, talvez por ser neto de seu amigo e saudoso Velho Tûk ou pela lenda que envolve a família, não sabemos ao certo. O que sabemos é que de alguma forma Bilbo aceitou(relutante, claro) o desafio e foi incorporado ao grupo no papel de ladrão.
E os anões são apresentados como seres mais frágeis do que em outras obras de Tolkien, talvez pelo livro ter sido a princípio escrito para o público infantil. Carrancudos, na maior parte do tempo mal-humorados, o grupo tem como líder Thorin Escudo-de-Carvalho. São eles em questão os maiores interessados em recuperar os tesouros em poder do dragão. Porém, no decorrer da aventura, são os menos que se esforçam, deixando o trabalho duro nas mãos de Bilbo. Como por exemplo, forçando o hobbit a entrar sozinho no túnel que levava a Smaug.
Da Vila dos Hobbits à Montanha Solitária(onde se encontra o dragão Smaug) o grupo passa por diversos cenários que são bem explorados pelo autor com pequenas aventuras. Nem todos os lugares são hostis, como Valfenda, onde o grande elfo Elrond os recebe muito bem. Em compensação, a maioria são provações, não é fácil escapar de aranhas gigantes, por exemplo.
O mago por diversas vezes se separa do grupo para combater o Necromante(Sauron) em Dol Guldur. Essa ausência deixava o restante do grupo desprotegido. O que de um lado era ruim, pelo outro as sumidas de Gandalf ajudaram Bilbo a crescer na história, ao tentar socorrer os amigos anões e ele próprio, o pequeno hobbit criava coragem, amadurecia e se tornava o verdadeiro dono da aventura. Foi ele quem livrou de forma brilhante os anões dos calabouços do rei dos elfos da floresta.
A interação de diversas raças e como cada uma vê a outra é extremamente interessante. Os homens do lago e sua relação comercial com os elfos da floresta apesar da desconfiança dos dois lados ou a estranheza de alguns por nunca terem visto um hobbit.
No fim, a aventura toma um caminho diferente do desenhado, somos surpreendidos por fatos inesperados o que só enriquece ainda mais a obra tirando a história da obviedade e com isso instigando ainda mais o leitor.
O mundo criado pelo autor é rico e no “O Hobbit” esse universo é bem explorado. Além da geografia bem trabalhada e nas descrições impecáveis aparece no livro grande parte dos seres que habitam aquelas terras: homens, elfos, anões, hobbits, orcs, trolls, dragão, grandes lobos selvagens, águias gigantes, aranhas monstruosas, etc.. E não podemos nos esquecer de Gollum e o “Advinhas no Escuro” que é o embrião do “O Senhor dos Anéis”, pois é nesta parte que Bilbo, por sorte(ou azar) encontra o anel tão famoso. Vale lembrar que a ideia do anel no “O Senhor dos Anéis” foi desenvolvida depois de o “O Hobbit” ser lançado por influência do editor de Tolkien, pois o mercado clamava por mais histórias de hobbits.
Sem-pernas ficou sobre uma perna,
duas-pernas sentou perto sobre três-pernas,
quatro-pernas conseguiu alguma coisa.
é a coisa que tudo devora
Feras, aves, plantas, flora.
Aço e ferro são sua comida,
E a dura pedra por ele moída,
Aos reis abate, a cidade arruina,
E a alta montanha faz pequenina.
Trecho do “Adivinhas no Escuro”
A leitura é mais dinâmica em comparação ao “Senhor dos Anéis” e por isso flui melhor. Tolkien conversa com o leitor, brinca com a cronologia dos acontecimentos, solta o resultado da aventura antes de narrá-la para depois explicá-la.
A construção bem feita entre mitologias anglo-saxônicas e nórdicas e o mundo muito bem sustentado na sua história/geografia/política já são elementos que prendem o leitor, porém, Tolkien nunca deixou de nos falar de sentimentos. Amizade, redenção, ódio, conflito, guerra, cobiça, desejo, amor, culpa, superação, coragem, traição, honra, enfim, sentimentos comuns a nós pobres mortais que torna a aventura fantástica mais humana e por isso ÉPICA.
Lá e de Volta Outra Vez… depois de uma cansativa aventura, não existe lugar melhor que nosso lar. O Hobbit é um senhor “BEM-VINDO” a Terra-Média.
“O mundo está dividido entre aqueles que já leram O Hobbit e o
Senhor dos Anéis e aqueles que ainda não leram.” The Sunday Times
Livro: O Hobbit
Autor: John Ronald Reuel Tolkien
Editora: Martins Fontes
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