quarta-feira, 18 de maio de 2011

Bin Laden - Uma história obscura

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma história obscura

Osama bin Laden era um dos listados na página dos dez terroristas mais procurados pelo FBI e, após o anúncio de sua morte, a sua foto passou a ser coberta por uma tarja com a palavra “falecido”. Entretanto, os motivos pelos quais o líder da rede terrorista Al-Qaida era procurado (com a grafia “Usama”) ainda se encontravam no sítio da polícia federal dos EUA, no momento em que estas linhas eram escritas:
«Assassinato de cidadãos estadunidenses fora dos EUA; conspiração para assassinar cidadãos estadunidenses fora dos EUA; ataque a uma instalação federal, resultando em morte… Usama bin Laden é procurado em conexão com os ataques à bomba às embaixadas dos EUA em Dar es Salaam, Tanzânia, e Nairóbi, Quênia, em 7 de agosto de 1998. Adicionalmente, bin Laden é suspeito em outros ataques terroristas em todo o mundo.»
Falta de evidências

Se o leitor notou a ausência de qualquer menção explícita aos ataques de 11 de setembro de 2001, não se equivocou. Já em junho de 2006, intrigado pelo estranho fato, o investigador Ed Haas, do sítio Muckracker Report, contatou a sede do FBI para obter informações a respeito e ouviu do então chefe de Publicidade Investigativa da agência, Rex Tomb, a surpreendente resposta: «A razão pela qual o 11/9 não é mencionado na página de Usama bin Laden nos Mais Procurados é porque o FBI não tem evidências concretas vinculando bin Laden ao 11/9.» Aparentemente, a situação não se alterou, desde então.
As mesmas evidências que faltavam ao FBI, para ligar bin Laden aos eventos determinantes que colocaram os EUA na trilha do “choque de civilizações”, parecem estar ausentes na retumbante operação de propaganda.

Sem corpo não há crime…

O primeiro item faltante é o cadáver do terrorista abatido, alegadamente, sepultado no mar a menos de 24 horas após a sua morte, porque nenhum país aceitaria recebê-lo e para evitar que o local de um sepultamento em terra pudesse converter-se num sítio de atração de radicais islâmicos. Até o momento, o governo estadunidense se recusa a divulgar uma simples foto do cadáver, sob o risível pretexto de preocupações com as suscetibilidades pessoais, especialmente dos muçulmanos, diante da imagem de um corpo destroçado (uma foto que circulou inicialmente e chegou a ser publicada em alguns sítios jornalísticos foi rapidamente identificada como uma montagem fraudulenta).
Tal procedimento contrasta dramaticamente com os precedentes de outros alvos dos EUA, como os filhos do líder iraquiano Saddam Hussein, Usay e Qusay, mortos em julho de 2003, do líder da Al-Qaida no Iraque, Abu Musab al-Zarkawi, em junho de 2006, e a captura do próprio Saddam, em dezembro de 2003. Em todos estes casos, horas após os eventos, fotos e vídeos dos mortos (mesmo desfigurados) e do detido foram divulgados pelo governo estadunidense. Posteriormente, até mesmo um vídeo “clandestino” da execução de Saddam, em dezembro de 2006, foi deliberadamente vazado, em um procedimento que recebeu ampla contestação internacional.

Vai ser rápido assim na China!

A cronologia oficial dos fatos é igualmente intrigante, pela exiguidade. Em menos de 23 horas após o término da operação (que durou 40 minutos, segundo o Pentágono), o cadáver do terrorista teria sido: transportado de helicóptero para uma base estadunidense no Afeganistão (a duas horas de voo); examinado para identificação, por reconhecimento facial e um teste de DNA (que mesmo num laboratório bem equipado não pode ser feito em poucas horas); novamente transportado por helicóptero até o porta-aviões Carl Vinson, no mar da Arábia, a mais de 1.300 km de distância (pelo menos seis horas de voo, sem contar um mínimo de três reabastecimentos); preparado de acordo com rituais islâmicos; e lançado ao mar.

Capturar e torturar…

Outra contradição relevante reside no fato de que, se bin Laden era realmente o ocupante do refúgio em Abbottabad, a sua captura representaria para os EUA um trunfo, incomparavelmente, maior do que a sua eliminação física. Isto, não apenas em termos psicológicos (recorde-se o impacto da exibição numa jaula do líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, aprisionado em 1992 pelo governo peruano), mas, principalmente, pela importância das informações que ele e seus asseclas poderiam fornecer sobre as atividades da Al-Qaida, que fariam a festa de qualquer serviço de inteligência dedicado seriamente ao seu mister – e não se duvide da capacidade das agências estadunidenses para obtê-las.

Questionamentos mundiais

Essas inconsistências têm ensejado uma onda mundial de questionamentos, inclusive nos próprios EUA, não apenas sobre a identidade do indivíduo morto em Abbottabad, mas também sobre a legalidade do que parece ter sido uma execução sumária e uma violação da soberania paquistanesa, cujo governo não foi avisado da operação (apesar de tê-la aprovado posteriormente, em um típico esforço de “controle de danos”).
As dúvidas sobre o falecido se referem, principalmente, às suspeitas generalizadas entre analistas, especialistas de segurança e inteligência e autoridades governamentais de vários países, inclusive os próprios EUA, de que bin Laden já estaria morto há anos, possivelmente, em decorrência de complicações da sua conhecida doença renal crônica. De fato, desde dezembro de 2001, quando fugiu do Afeganistão para o Paquistão, não houve qualquer evidência sólida sobre o paradeiro ou de alguma manifestação comprovada do líder da Al-Qaida – que, nos últimos anos, tem sido efetivamente dirigida pelo egípcio Ayman al-Zawahiri, segundo de bin Laden.

Hegemonia global?

A ironia maior é que, mesmo que o FBI não o tenha apontado como o mentor dos ataques de 11 de setembro de 2001, o nome de Osama bin Laden ficará indelevelmente ligado àqueles eventos históricos. Agora, é possível que a sua morte, real ou simulada, acabe vindo, num futuro próximo, a simbolizar a efêmera tentativa de se utilizar a natimorta ideologia do “choque de civilizações” para perpetuar uma hegemonia global que não tem mais vez no fluxo da História.

0 comentários:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 
TECNOLOGIA SOCIAL 2014 ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates